#10ART – Dia 2 – Pós-biológico na arte
Assim como na mesa de neuroestética eu vou tentar unir a fala dos 4 participantes. São eles: Maria Luiza Fragoso, Cleomar Rocha, Guto Nóbrega e Gilbertto Prado.
A mesa começou com a fala de Maria Luiza Fragoso discursando sobre as máquinas inteligentes que tem essa capacidade de interagir e sobre a nossa inevitável convivência com elas. Elas necessitam somente de uma fonte de energia para viver mas ao mesmo tempo podem se tornar subitamente mortas a um simples toque. Parecem ter vida. Nós respondemos e reagimos a ela o que nos dá a sensação de comunicação. O que nos interessa é a comunicação, logo nos desinteressamos pelo que nos parece inanimado, pelo que não conseguimos nos comunicar. Na própria vida natural, por assim dizer, já existes muitos seres que não conseguimos nos comunicar, como plantas, insetos, e nesta falta de comunicação muitas vezes nos esquecemos que são seres vivos. Essa falta de comunicação nos distancia, nos afasta da vida orgânica. Nos sentimos cada vez mais vivos ao se conectar na rede, ao ingressar em redes sociais e nos “comunicar” constantemente com o maior número de amigos possíveis. O que é estar vivo e morto no contexto tecnológico contemporâneo? Será possível experimentar a morte da mesma forma que temos a sensação de vida? A artificialização das relações parece desvalorizar o valor tênue e efêmero da nossa vida, e que a nossa vida é orgânica. O que seria então o pós-biológico e pós-humano? A fala de Cleomar Rocha vai começar então defendendo a ideia de que a arte é por si só pós-biológica. No sentido que é resultado de uma cadeia produtiva que utiliza sistemas, artefatos, mecanismos, materiais a partir de intervenção humana. Quando dizemos ‘pós’ é com uma perspectiva de ampliação e não de substituição. O ciberespaço pode ser visto de diversas formas. A primeira a do paralelismo em que consistiria então em uma realidade paralela, em que você atua através de um avatar. A segunda seria de um atravessamento, quando acessamos algo remotamente. E a terceira uma visão atomizada em que podemos nos plugar e conectar a qualquer hora de qualquer lugar, uma visão próxima da cultura contemporânea. O Pós-biológico se aproxima da visão de atravessamento em que nos conectamos através de um dispositivo para acionar o sistema. Podemos então discutir os exemplos das obras de Guto Nóbrega e Gilbertto Prado a partir das falas de Malu Fragoso e Cleomar Rocha. Guto Nóbrega se interessa pelos seres híbridos, uma forma de mesclagem e intervenção de seres orgânicos com máquinas, foi criada Breathing “feita da comunicação entre um organismo vivo e um sistema artificial.
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Breathing from Guto Nobrega on Vimeo.
A criatura responde ao seu ambiente através de movimentos, luzes e ruídos. O ato de respirar é a melhor maneira de interagir com a criatura. Este trabalho é o resultado de uma investigação sobre plantas como agentes sensíveis na criação de arte. A intenção desta obra é explorar novas formas de experiência artística através do diálogo entre processos naturais e artificiais. Breathing é um pré-requisito à vida e é o caminho que interliga o observador à criatura. Breathing é um trabalho de arte movido por um impulso biológico. Sua beleza não é revelada na planta ou na estrutura robótica. Essa emerge no exato momento em que o observador e criatura trocam suas energia através do sistema. É durante esse momento lúdico, no qual nos encontramos num estranho diálogo com a criatura, que a metáfora da vida é criada” Breathing é como uma tentativa de comunicação com esses seres inanimados citados por FRAGOSO.
Guto afirma que este momento de interatividade se torna então uma relação interafetividade. Afeto aí pode ser considerado de duas formas, uma relação mutua de ação e reação ou de um sentimento “caridoso”, “amoroso”, se é que me entendem. Gilbertto Prado apresentou os projetos que vem desenvolvendo com o Grupo Poéticas Digitais na USP. Três projetos foram apresentados o Desluz resultado de uma indagação de porque os insetos ficavam rondando as luzes urbanas. Isto o fez pesquisar sobre o aspecto da luz. Os insetos são sensíveis ao o infravermelho que podemos sentir mas não podemos ver. O resultado foi uma instalação constituida de um tubo de LED que aparentemente está apagado e não interage. Quem passa pela instalação desapercebido pode pensar que não funciona, porém ao vê-la através do celular, as luzes estão acesas. A instalação é sobre o que sentimos porém não compreendemos.
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Esta instalação se inspira em seres citados na fala de Fragoso, é interessante perceber que apesar de nos impormos entre outras espécies pequenos seres possuem a sensibilidade para coisas que nós não percebemos. A segunda obra de Gilbertto Prado foi a instalação Amoreiras que foi instalada no ItauCultural. Foi criado um sistema que captava o som da rua e do chão que acionava motores que chacoalhavam as amoreiras. Cada árvore era sensível a uma frequencia sonora. Além disso, o sistema incluia o princípio de vizinhança em que uma arvore parada aprendia com sua vizinha e começava lentamente a se mexer também. Esta experiência foi também exemplo da interafetividade citada por Nóbrega.
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As amoreiras foram capazes de interromper o ritmo infreável de paulistas que passavam na rua, que prestavam atenção nos seres híbridos, orgânicos inanimados em movimento. O último experimento foi apresentado aqui no #10ART chamado Catavento que é um diálogo entre céus e nuvens. Foi projetado no Museu da Repubica uma animação sensível a direção e intensidade do vento. Nela a palavra Céu se apresenta e desloca de acordo com o sentido do vento e as partículas que se desfazem de acordo com sua intensidade. Uma arte que interage não com os humanos, mas com a natureza. Uma obra que nos faz ter que relembrar e esperar o tempo da natureza.
Ao final da mesa Lucia Santaella pontuou algo muito interessante: no século XX o homem fez uma descoberta muito importante: a vida é código(se referindo ao código genético). Antes disso atribuiamos a invenção de códigos ao homem. Sendo assim, até onde vai a vida?
Achei bastante interessante a afirmação a respeito do código genético, mas não sei se concordo . Ela reflete pra mim o mesmo que o homem sempre tentou fazer historicamente (como o desenvolvimento da religião por exemplo) o desenvolvimento de padrões para tentar achar algum tipo de ordem no caos, como um quebra cabeças onde o conhecimento das peças corretas faz tudo fazer sentido. Acho que os padrões existem em tudo que existe, no tempo, na escala, no espaço. Não estou aqui estupidamente negando a existência dos códigos genéticos, mas sim na afirmação de que a vida é código. acho q o homem codifica a vida para tentar entende-la, o que constantemente acarreta na quebra dessas expectativas, numa posterior consternação com relação a quebra dessas mesmas pelo que está fora do padrão para em seguida termos a elaboração de uma nova ordem. Acredito que a Arte serve para levar-nos um dia para o novo ponto: a aceitação das limitações que a razão nos impõe e a busca pela união com a natureza (realidade) que a inovação constante nos impele. Um dia entenderemos esse caos, mas talvez a palavra entender não possa mais ser empregada por ser obsoleta. Inventaremos algo além do entendimento. Talvez o amor já seja isso. bjs