PREAMAR

A instalação “Preamar” consiste na sobreposição de duas projeções de uma maré de dados do corpo. Para realizar a instalação, coletei dados de minha pressão arterial de minha mãe por 24h. A palavra “Preamar” em português soa como Pré-amar e significa maré alta. A relação mãe e filha é ponte para pensar o instinto de sobrevivência através da reprodução e proteção da prole. Ao alternar entre movimentos coreografados e opostos, as projeções vislumbram o processo de (in) dependência estabelecido entre mãe e filha e a dinamicidade das alterações fluidas na relação sangue-afeto.

Os dados do coração são utilizados para criar uma visualização que remete a um mar de sangue. Para gerar a visualização, um algoritmo mapeia os valores de sístole e diástole contidos em uma tabela na altura de uma onda vermelha oscilante. Ao mesmo tempo, estes dados também são utilizados para determinar o efeito de reverberação da frase “Amar é a maré” que pela semelhança fonética na língua portuguesa, ao se repetir também soa como “A maré, amar é.”

Desta forma, a instalação Preamar relaciona a natureza instável das emoções e sua manifestação no corpo através da metáfora da maré por ser manifestação de movimento incessante, fluido, dinâmico. A instalação aborda o corpo através do mar, e o mar que nos habita. A maré também se relaciona especialmente ao corpo feminino e sua influência da lua relacionada à periodicidade do ciclo menstrual, o que aproxima a existência da mulher com o sangue. Além de relacionar as emoções, o coração e o sangue, procurando não separar mente e corpo. Preamar parte da compreensão da natureza fluida e viva da nossa existência à semelhança do organismo Terra. O batimento cardíaco e a circulação parecem ser esses motores poéticos para a relação com uma visão ampla do instinto e a relação com o planeta.

Ao relacionar sangue e afeto, Preamar procura dar visibilidade a um estranhamento da percepção do corpo. A possibilidade de compreender certas emoções através de uma alteração na composição química do corpo e vice-versa às vezes se torna tão inconcebível quanto a explicação científica de certos fenômenos naturais, como a influência da lua no mar. Tais fenômenos talvez devessem permanecer inexplicáveis para se manter o mistério da experiência vivida.

Exposta no Museu Nacional de Brasília na exposição EmMeio#5.0 e no Galpão de Linguagens Visuais no É-vento, ambos em 2014.